quarta-feira, 17 de junho de 2009

Francisco Ferreira Drummond

1796 - Vila de São Sebastião (Terceira); 1858 - Vila de São Sebastião (Terceira)


Francisco Ferreira Drummond (21 de Janeiro 1796 - 11 de Setembro 1858) foi um talento plurifacetado: historiógrafo autor dos Anais da Ilha Terceira, paleógrafo, músico, organeiro e político com grande actividade cívica na vila de São Sebastião, ilha Terceira, Açores. O seu trabalho histórico publicado ocupa um lugar cimeiro na historiografia açoriana, sendo a base de boa parte das obras sobre a história dos Açores, em particular sobre a história da ilha.


Primeiros Anos

Nasceu numa pequena casa da Rua da Igreja da Vila de S. Sebastião, a 21 de Janeiro de 1796, tendo sido baptizado na respectiva Matriz em 27 desse mesmo mês, e faleceu na sua casa da Travessa da Misericórdia, em 11 de Setembro de 1858, contando assim 63 anos incompletos de idade.

Foram seus pais Tomé Ferreira Drumond, lavrador abastado, e D. Rita de Cássia, ambos residentes e baptizados também na referida Matriz, e pertencentes à principal nobreza local.

Desde os mais verdes anos, revelou decidida vocação para as letras e cultura musical. Habilitado com a instrução primária, estudou seguidamente as disciplinas que então constituíam objecto do ensino da mocidade, isto é, o latim, a lógica e a retórica. Muito estudioso, procurou constantemente aumentar a sua instrução, assim literária como artística, o que lhe foi facilitado em grande parte pelo meio familiar em que viveu.

Criada a escola de primeiras letras nesta Vila, por alvará de 6 de Março de 1782, fora nela provido o professor Sebastião Ferreira Drumond, ao qual sucedeu seu irmão Francisco Machado Drumond, que, nomeado por provisão de 23 de Janeiro de 1786, desempenhou ininterruptamente as respectivas funções durante 30 anos, sendo sempre considerado não só como notável professor, como também cidadão de grandes virtudes cívicas e religiosas. Foi este conceituado mestre régio - tio paterno de Francisco Ferreira Drumond - homem abastado e generoso, que viveu no estado de solteiro, o mentor e protector de toda a família a que pertencia

Nesta Vila houve então, além da aludida aula de primeiras letras, unia cadeira de gramática latina, de que foi primeiro professor P. António Miguel da Silveira, nomeado em 15 de Junho de 1783, tendo-lhe sucedido no cargo o P. António José Rijas, até ao ano de 1824, em que foi extinta essa cadeira.

Foi, contudo, o erudito P. José Ferreira Drumond, seu primo e padrinho, também hábil organista, que maior influência exerceu na formação espiritual do nosso homenageado, de quem foi o primeiro mestre. Além deste, teve como mestre do órgão Fr. António de Pádua, que mais de 40 anos foi vigário do coro no convento de S. Francisco de Angra.

Mercê, assim, de uma sólida preparação literária e musical e persistente estudo dos principais autores portugueses e latinos, não obstante viver neste deveras acanhado meio, foi considerado bom latinista e exímio organista.

Desde muito novo, simultaneamente, manifestou decidida vocação para as investigações históricas em que mais tarde, sobretudo, se havia de notabilizar.


Percurso cívico

Iniciou Francisco Ferreira Drumond a sua vida pública como organista da Matriz da Vila da Praia, cargo para que foi nomeado em 1811, contando apenas 15 anos de idade, e exerceu durante 47 anos, até ao seu falecimento. Nessa época, aquela arte, em que foi exímio, era muito apreciada, deveras contribuindo para o excepcional esplendor que começou a atingir nesta ilha a música sacra, especialmente sob a influência do Bispo da Diocese D. José Pegado de Azevedo (1802-1812), que foi grande amador de música.

Músico por vocação, Francisco Ferreira Drumond, dispondo de profundos conhecimentos, assim práticos como teóricos, e não só como organista mas ainda de organeiro, a ele se recorria nesta ilha confiadamente sempre que dos respectivos serviços se carecia. Na casa da sua residência, tinha cravo e manicórdio, em que sempre se exercitava até os últimos anos de vida.

Foi no seu tempo, isto é, em 1855, que apareceu, pela primeira vez nesta ilha, numa festividade realizada na Igreja de N. S. da Conceição de Angra, um novo instrumento musical para substituir o órgão - o Harmónio ou órgão expressivo, que causou grande sucesso, pela energia e docilidade dos seus sons. E, logo no ano imediato, tendo a Misericórdia da Vila da Praia mandado vir do continente um desses instrumentos para a sua igreja, Ferreira Drumond a ele se consagrou, enaltecendo, em escrito público, o seu emprego.

Para além do cargo de organista da Matriz da Praia, desempenhou em S. Sebastião os cargos de escrivão da Câmara Municipal, escrivão dos órfãos, secretário da Administração do Concelho, e tabelião. Em 1836 foi eleito Presidente da referida Câmara, tendo desempenhado essas funções até 1839. Nesse ano foi eleito Procurador à Junta Geral. Exerceu durante vários anos o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia.

Distinguiu-se na luta contra a extinção do concelho de S. Sebastião, extinção que, em boa parte graças à actividade de Ferreira Drumond, apesar de decretada em 24 de Outubro de 1855, apenas se consumou em 1 de Abril de 1870. Algumas das mais importantes obras da antiga Câmara de S. Sebastião foram iniciativa sua, nomeadamente a captação das nascentes do Cabrito e o seu aproveitamento para moagem, naquela época a maior obra hidráulica da Terceira e uma das maiores dos Açores.

Francisco Ferreira Drumond foi homenageado em 1951 com um pequeno monumento localizado no Rossio, Vila de S. Sebastião. A casa em que viveu foi recentemente adquirida pela Santa Casa da Misericórdia local, estando para breve previsto o seu restauro e transformação em biblioteca associada da rede de leitura pública.


Acção política

Ferreira Drumond cedo aderiu à causa liberal, tendo sido eleito pelo novo sistema constitucional, em 1822, secretário da Câmara Municipal de S. Sebastião. Tal eleição valeu-lhe grandes dissabores, tendo, para escapar às perseguições dos absolutistas, fugido da Terceira, durante a noite, numa embarcação que o levou à ilha de Santa Maria, de onde passou a Ponta Delgada, dali partindo, com passagem pela Madeira, para Lisboa. Depois de um ano de exílio voltou à Terceira, tendo participado activamente em todo o desenrolar da guerra civil nesta ilha (que depois tão bem descreveu nos seus Anais da Ilha Terceira).


Obras publicadas

Foi autor, para além de muitos artigos dispersos na imprensa da época, das seguintes obras publicadas:

•Memória Histórica da Capitania da Praia da Vitória — editado pela Câmara Municipal da Praia da Vitória em 1846, 56 pp., Praia da Vitória. A obra foi reeditada inserta na colectânea Memória Histórica do Horrível Terramoto de 15.VI.1841 que Assolou a Vila da Praia da Vitória, edição da Câmara Municipal da Praia da Vitória, 1983.

•Anais da Ilha Terceira — obra escrita segundo o critério cronológico típico dos Anais, cobrindo o período desde a descoberta e povoamento da ilha até 1850. Foi oferecida à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, que a editou em 4 volumes, contendo 1420 páginas de texto e 510 de documentos. O volume I foi publicado em 1850; o vol. II em 1856; o III em 1859; e o IV, póstumo, em 1864. Reeditado, em fac-símile da edição original, pela Secretaria Regional da Educação e Cultura, Angra do Heroísmo, 1981.

•Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos, para a História das Nove Ilhas dos Açores — obra inacabada deixada em manuscrito. Após um conturbado percurso, a obra foi editada em 1990 pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 648 pp.



Órgãos Construídos - ?


Intervenções de Restauro - ?



Fontes:
- Cruzado
- Página Pessoal de Cipriano Martins

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