sábado, 14 de agosto de 2010

O Órgão da Igreja Matriz de São Jorge (Ilha de São Jorge)


Construído por Tomé Gregório de Lacerda em 1865. Este organeiro amador, tio do compositor Francisco de Lacerda, construiu quatro instrumentos, copiando outros órgãos e aproveitando instruções colhidas do Padre Silvestre Serrão em Angra do Heroísmo.

Destes quatro considerado o de maior fábrica, o órgão da Matriz de Velas é aliás o único que subsiste, tendo sido totalmente restaurado pelo organeiro Dinarte Machado, que concluiu os trabalhos a 14 de Agosto de 1990, procedendo a uma beneficiação em 1995.

Como a carência de materiais próprios, sobretudo para os tubos, levou Gregório de Lacerda a construí-los em chapa de chumbo puro, liga muito frágil e de manutenção impossível, foi a canaria existente substituída depois do restauro e guardada a original num armário próprio junto ao instrumento.

Foram também construídas de novo todas as palhetas à chamada (Baixãozinho e Clarim), que faltavam.

O órgão encontra-se colocado no coro alto da igreja.


Informação Técnica

- Localização (na Igreja): Coro Alto
- Estado: Funcional
- Tipo: Órgão Ibérico, de um manual
Nº3 do organeiro acima referido
- Ano da Construção: 1865
- Teclado: Dividido (Dó 1 - Dó 3; Dó# 3 - Sol 5) . 56 Teclas.

- Registação (9+9):



*Mão esquerda:
Vigésima Quarta
Dezanovena e 22ª
Símbala
Quinzena
Dozena
Flautado de 6 tapado
Oitava Real
Flautado de 12 tapado
Baixãozinho *









*Mão direita:
Dezassetena
Compostas de 12ª e 15ª
Símbala
Quinzena
Dozena
Flautim
Flautado de 12 aberto
Flauta em 12
Clarim *



NB: Os registos com sinal de * na frente são Palhetas Horizontais (Palhetas em chamada).

- Extras:
* Pisantes para ligar e desligar o cheio.


- Intervenções:
* Construção: em 1865, por Tomé Gregório de Lacerda
* Restauro: concluído a 14 de Agosto de 1990, por Dinarte Machado
* Beneficiação: em 1995, por Dinarte Machado


O órgão histórico de tubos da Matriz de S. Jorge em Velas, foi construído nesta ilha por um ilustre jorgense, no ano de 1865, de nome Tomé Gregório Lacerda, tio do maestro e compositor Francisco de Lacerda, figura que tanto honrou Portugal e os Açores, por terras eruditas da Europa, no campo musical.

Tem, portanto, 130 anos e foi o terceiro dos quatro então construídos por tão hábil filho da Ribeira Seca, tendo custado na época 900$000 reis.

É feito de madeira de casquinha, carolina, jacarandá e câmbala, madeiras exóticas que arribavam então às ilhas ou trazidas do Brasil, fazendo lastro, em barcos que aqui faziam "aguada".

Fora colocado inicialmente, como era da praxe, num coreto lateral, sob a arcada do lado esquerdo, tendo sido posteriormente transferido para o coro alto em 1897.

Dos quatro então feitos por Tomé Gregório de Lacerda apenas existe o desta Matriz.

Deixara de tocar em 1964, por altura da crise sísmica que abalou profundamente esta ilha, nomeadamente o concelho das Velas.

Em 1989, o novo Pároco envida esforços no sentido de se proceder ao seu restauro, que realmente se verificou a 13 de Junho de 1990, trabalho esse efectuado pelo jovem organeiro Dinarte Machado, e que consistiu na reparação de algumas deficiências técnicas ligadas à construção inicial, a fim de que o órgão ficasse aptamente tocável e sobretudo em moldes de construção ibérica.

Além das anomalias acima referidas, houve ainda que enriquecer timbricamente este instrumento, pelo que foi necessário construir um jogo de tubos para a fachada mais outro no interior, assim como toda a palhetaria da mesma que não existia.

Na obra deste restauro e beneficiação, levada a cabo pelo referido organeiro, foram dispendidas 1107 horas de trabalho, ficando o órgão provido de dois sistemas de produção de ar: o antigo, movido através de uma alavanca accionada com o pé, e o moderno, através da aplicação de um gerador de ar importado da Alemanha.

O seu orçamento foi de 2 400 000$00, suportados em 50% pela Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Em virtude da fragilidade dos materiais originais então usados - o chumbo - o órgão ficou aquém das suas reais capacidades tímbricas, pelo que enfermava na sua dupla função quer litúrgica quer concertística.

Houve, portanto, e sem descaracterizar o instrumento, que proceder a novo restauro, isto é, submetê-lo a uma cuidadosa e criteriosa remodelação e ampliação de restauro, de modo a lhe dar maior capacidade sonora para assim exercer cabalmente a sua função religiosa e cultural.

Este trabalho consistiu na completa substituição do chumbo por chapa de estanho, acrescido ainda do aumento de mais 87 tubos, ficando um total de 759 ao contrário dos 672 de anteriormente.

Assim o órgão ficou altamente enriquecido e valorizado, mantendo todavia as suas características originais em relação à mecânica e estética concebidas pelo seu construtor.

Como prova de respeito pelo passado e pela história, os tubos agora substituídos foram colocados num armário de vidro, adrede construído para o coro alto mesmo ao lado do órgão, podendo os mesmos ser admirados pelos visitantes.

É que restaurar não significa destruir...

Este projecto, deveras audacioso, foi orçado em 2 600 000$00, tendo a Câmara Municipal das Velas, num gesto completamente inédito neste arquipélago, comparticipado com 50%, ficando o resto ao cuidado do Fundo Paroquial.

Fica aqui, uma vez mais, o nosso reconhecimento à Edilidade Velense.

O Pároco
Pe. Manuel Garcia da Silveira
Em 1995


Oiça o Órgão
Intérprete: Rui Paiva
Em: 1995
Retirado do CD "Os Mais Belos Órgãos de Portugal: Açores - CD C" (Intérprete: Rui Paiva).



A Igreja:


A Igreja Matriz de São Jorge é uma igreja católica portuguesa localizada em Velas, na ilha açoriana de São Jorge.

Esta igreja foi levantada no local onde dantes existia a primitiva igreja de São Jorge de que fala o testamento do Infante D. Henrique, e que datava de 1460.

A licença para a sua construção foi requerida pelo padre Baltazar Dias Teixeira, e concedida por D. Afonso VI, por alvará de 23 de Abril de 1659. Para esse efeito, em Outubro de 1660 a Câmara Municipal de Velas teve de lançar uma finta anual a começar no ano seguinte.

Todavia, só em 1664 a obra da edificação principiou, sendo arquitecto da mesma o pedreiro Francisco Rodrigues. A construção decorreu normalmente, sendo a igreja sagrada em Fevereiro de 1675, pelo então bispo de Angra do Heroísmo, D. Lourenço de Castro.

A actual fachada já não é a mesma de então. No seu interior, composto por três naves, são dignos de nota o retábulo da capela-mor que, segundo a opinião do Dr. João Teixeira Sousa, parece ter sido o que D. Sebastião ofereceu à vila, e a que se refere a vereação de 12 de Agosto de 1570.

Destaca-se também o altar lateral com abóbada de caixotões, tendo no centro a figuração do Santíssimo Sacramento lavrada na cantaria basáltica e dois púlpitos em pedra, com escada. No coro alto, encontra-se um órgão de tubos construído em 1865 por Tomé Gregório de Lacerda, tio do famoso compositor Francisco de Lacerda.

Quando aquele bispo esteve na ilha para a sagração do templo, a artilharia dos Fortes das Velas gastaram em salvas, à entrada e à saída 110 libras (medidas da altuta) de pólvora. A construção da torre decorreu em 1825, segundo Avelar, nela se colocando três sinos que, em 1831, foram apeados para fazer moeda na Ilha Terceira. O sino grande que foi posto em 1871 pesava 468,700 quilos.

Esta igreja matriz possuía várias confrarias que mais tarde seriam extintas. Em 1902 a única confraria ali existente era do Santíssimo Sacramento, erecta em 1793, e que tinha a seu cargo as festividades ligadas com a procissão do Corpo de Cristo e as cerimónias das endoenças.

Esta igreja tem vários vitrais contemporâneos, testemunhando a lenda de São Jorge a matar o dragão.



Localização:

Velas
9800 VELAS

Ilha: São Jorge
Distrito: Horta
Concelho: Velas
Freguesia: Velas

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Agradecimentos:
- Pe. Manuel Garcia da Silveira, Pároco da Igreja Matriz de São Jorge
- Helen Martins

Fontes:
- Fotografias:
* Órgão - tiradas no local, excepto a primeira, que foi retirada de um postal distribuído na igreja.

- Informações:
* Igreja - Wikipédia
* Órgão - Folheto informativo, distribuído na igreja; Folheto informativo do CD "Os Mais Belos Órgãos de Portugal - Açores, CD C"

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