terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Órgão da Igreja de Santa Bárbara (Manadas) - Ilha de São Jorge


O órgão da Igreja de Santa Bárbara é um dos três únicos instrumentos do organeiro lisbonense Sebastião Gomes de Lemos que persistem no arquipélago.

Infelizmente, as condições de manutenção do mesmo não foram as melhores, tendo desaparecido várias peças do órgão.

Entre 1982 e 1984, a Fundação Ricardo do Espírito Santo (Lisboa) esteve presente no templo para trabalhar no restauro do Altar-Mor. Vendo o estado em que se encontrava o instrumento, resolveram reunir todas as peças que encontraram.

Neste momento, o órgão é usado apenas como armário.



Informação Técnica

- Localização (na Igreja): Coro Alto
- Estado: Não funcional
- Tipo: Órgão Ibérico de Armário, de um manual
- Organeiro: Sebastião Gomes de Lemos
- Ano da Construção: 1851
- Teclado: Dividido. Extensão: Dó 1 - Sol 5. 56 Teclas.


- Registação:
8 registos não identificados, 4+4.





- Intervenções:
* 1851 - construção, por Sebastião Gomes de Lemos







A Igreja


A Igreja de Santa Bárbara é uma igreja católica portuguesa localizada perto do Porto das Manadas, ao Caminho de Baixo na freguesia das Manadas, concelho de Velas, Ilha de São Jorge, arquipélago dos Açores.

Trata-se de uma igreja classificada como Monumento Nacional. A sua fachada apresenta-se sóbria e sem grandes aparatos arquitectónicos, embora harmoniosa e equilibrada, não deixando antever a arte religiosa que existe no seu interior. Foi reconstruída em 1770, aproveitando uma primitiva Igreja existente no local também dedicada à invocação de Santa Bárbara e que datava 1485, de que ainda existem vestígios que actualmente se resumem à sacristia.

Segundo a tradição popular este Monumento Nacional de 1770 tal como o 1485 foram construídos com pedras arrancadas nas rochas de uma pedreira que se encontra a alguma distância e daí trazidas pelo Caminho da Pedreira, Caminho da Ermida e Caminho da Igreja até à beira-mar, percorrendo assim ainda uma distância respeitável.

Não há, que se conheça, muita documentação da época de 1485 referente a esta igreja de Santa Bárbara. O documento mais antigo de que há conhecimento e que se refere a esta igreja é uma Carta Régia do Rei D. Sebastião, Promulgada na Vila de Sintra, e datada do dia 30 de Junho de 1568. Nesta carta são estabelecidas novas côngruas para os parcos desta igreja, ficando então nesta altura o Paroco de Santa Bárbara das Manadas a receber 20 mil réis anuais (moeda da altura).

Esta igreja apresenta-se dotada de uma única torre de forma quadrangular e rematada em cúpula, onde se encontram três sinos. A fachada principal encontra-se voltada a Oeste e está ornamentada com uma decoração de pedra basáltica de cor preta à volta da porta principal e da janela de coro sobre a qual foi colocado um nicho onde se encontra imagem da Padroeira: Santa Bárbara.
No interior da igreja foi colocada talha dourada, quadros pintados sobre madeira e seis painéis de azulejos setecentistas que retratam a vida de Santa Bárbara.


No interior, uma nave de paredes brancas encontra-se decorada com pinturas sobre madeira, cujos temas são: “O Domingo de Ramos” e o “O Lava-pés” que estão situadas no lado do Evangelho, entre as grades em madeira torneada do coro e do púlpito, existe uma obra de talha decorada com folhas de Acanto elaborada em tons azuis e rosa.

Na parede em frente desta encontra-se a única janela desta nave onde também se encontram várias pinturas, que desta sorte são: “A Fuga para o Egipto” a “Santa Ana e a Virgem” e também uma pintura de “São Joaquim”. No Transepto, e já sobre a porta da sacristia, na parte Norte, encontra-se um retrato de Santo Inácio de Loyola que segundo afirmam os estudiosos tem o rosto do pintor italiano que esteve encarregado da decoração da Arte Barroca desta igreja. Em frente a esta pintura encontra-se um quadro que representa São Francisco de Borja com uma oração implorando protecção contra a fome e a guerra.


Sobre o lado do Evangelho, encontra-se um altar dedicado a São Miguel, trata-se de um retábulo pintado sobre tela com 2 imagens, uma de Santo Amaro e outra de Santa Luzia, que segundo os especialistas são obras do artista conhecido simplesmente por Mestre de São Jorge.
O altar dedicado a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal; é dotado de um Sacrário onde se encontram anjos esculpidos e uma curiosa decoração de figuras humanas trajadas de verde e vermelho.

No retábulo encontra-se esculpido em madeira um pelicano dando comida aos filhos. Esta ave curiosa, segundo a lenda, alimentava a sua prole com a carne que arrancava do próprio peito e por isso a tradição Cristã a adoptou como símbolo da Eucaristia.

A Concha de Vieira, ligada à simbologia mítica de passado encontra-se presente em toda a decoração da igreja. Esta Concha acompanhou como bandeira de Peregrinações, Cruzadas e Descobrimentos. Representa o símbolo da procura do Caminho, da Esperança de chegar ao Paraíso divino.

O Altar dedicado a Nossa Senhora do Carmo, que se encontra colocado do lado da Epístola, tem uma imagem parece ser a mais antiga desta Igreja. Esta imagem existiu num antiga Confraria do Carmo, e segundo os especialistas é a mais bela e preciosa obra de arte do templo.


O altar dedicado à invocação do Senhor Jesus dos Aflitos, apresenta-se com uma imagem crucificada que acompanhou o povo por todos os caminhos e atalhos desta Freguesia durante o tempo que decorreu a crise sísmica que aconteceu em Fevereiro de 1964. Durante este acontecimento o paroco da altura, o padre Francisco da Terra Faria, aconselhou à população que se encontrava reunida à volta desta Igreja de Santa Bárbara, a implorar a misericórdia de Deus. Assim deu-se início a uma procissão com esta imagem que perdurou. Durante todo o tempo que durou os tremores de terra, o povo com a terra a tremer dia e noite debaixo dos seus pés, ia todas as tardes com o Senhor Jesus dos Aflitos em procissão de preces. Com o terminar da procissão voltavam para suas casas tranquilos apesar do cansaço da recitação em voz alta das orações.
Como os tremores de terra pararam que se desse qualquer erupção vulcânica, o povo em sinal de gratidão à Divindade dotou a cruz do Senhor com decorações de prata e a imagem passou a ter pregos e Coroa de Espinhos também de prata. Encontram-se ainda esculpidas em relevo, no retábulo do altar, as figuras da Virgem e do Apóstolo São João, aos pés da Cruz. Este sacrifício que aqui se encontra tem na porta a figura do Cristo Ressuscitado.

As Armas de Portugal e a antiga Coroa Real encontram-se sobre o Arco da Capela encaixadas sobre o monograma Jesuítico IHS, e apresentam um rechonchudo querubim de cada lado. Este local encontra-se fechado por grades elaboradas em madeira torneada que ali foram colocadas após a visita de Jorge da Silveira Souto Mayor, que foi beneficiado e confirmado na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário da Vila do Topo.

Durante esta visita Jorge da Silveira Souto Mayor deixou ordem para que “… as lâmpadas dos altares de Nossa Senhora da Conceição e do Senhor Jesus estejam de agora em diante acesas e no Arco da capela-mor sejam colocadas grades bem feitas para que ninguém aí entre sem que seja necessário”. Esta informação encontra-se na primeira página do “Livro das Visitações”, antigo manuscrito cuja data recua 15 de Abril de 1751 e que se encontrava perdido mas que foi encontrado no mês de Junho de 1983 pelos Jovens Naturalistas durante uma limpeza que estes efectuavam aos documentos da Igreja. Colocado sobre as grades do transepto e por ordem de Amaro Pereira de Lemos, que foi Vigário da paróquia de Santo Amaro, encontram-se dois confessionários que ali foram posto no dia 21 de Abril de 1825.


O tecto da nave é totalmente feito em madeira de cedro-do-mato, como também toda a restante decoração. Este facto, e dado que o cedro-do-mato é uma árvore cuja resina é muito carregada de odor, faz que dentro desta Igreja o ambiente se encontre repleto do perfume suave desta árvore característica das floresta da Laurisilva típica da Macaronésia.

Entre as várias pinturas decorativas que se encontram neste igreja destacam-se três medalhões, esculpidos em relevo, que representam a padroeira Santa Bárbara, o Espírito Santo neste caso representado na forma de uma Pomba Branca e São Jorge a cavalo matando um dragão. Dragão este que é o símbolo da ilha de São Jorge e que valeu à esta ilha o Cognome de ilha do Dragão.

O tecto da Capela-Mor desta igreja está coberto por três filas de quadros pintados sobre madeira com a representação dos Mistérios do Rosário. Esta pinturas tinham ali sido colocados antes do grande terramoto que aconteceu no dia 9 de Julho do ano de 1757 e que destruiu quase todas as Igrejas da ilha sem, no entanto causar grande estragos a esta Igreja de Santa Bárbara.

Ainda na Capela-Mor as paredes encontram-se revestidas, na sua parte inferior com 6 painéis elaborados em azulejos azuis e brancos, azulejos estes que representam a vida e a morte da padroeira Santa Bárbara. Os azulejos contam a História de Santa Bárbara, jovem nascida na Nicomédia, hoje Izmit, na Turquia, junto das margens do Mar de Mármara, isto nos fins do século III da Era Cristã. Esta jovem era a filha única de um rico e nobre habitante desta cidade do Império Romano chamado Dióscoro.


Num nicho que se encontra do lado da Epístola há uma imagem de Nossa Senhora das Lágrimas, a única com vestimentas de tecido: Apresenta-se composta por uma vestimenta de cor roxa e um manto de cor azul. Esta imagem é um busto elaborado em madeira com os braços articulados, facto que permite vestir a imagem colocada que se encontra colocada sobre uma armação feita em madeira. O actual busto de Nossa Senhora das Lágrimas em exposição na igreja não é o mais antigo existente neste templo, uma vez que o mesmos jovens naturalistas que no Verão de 1985 fizeram uma limpeza na documentação da igreja encontraram, um outro busto bem mais antigo, num quarto de arrumação deste templo.

Encontra-se na parte de cima das paredes várias pinturas feitas sobre tela que representam os Quatro Evangelistas, a Ressurreição de Cristo, a Assunção da Virgem Maria, a Instituição da eucaristia e o Nascimento do Menino Jesus. Esta última pintura em parte destruída por pedras que caíram da parede do lado Sul durante o terramoto de 1 de Janeiro de 1980. Retirada do local foi restaurada debaixo da orientação de Emanuel Félix Lopes da Silva, poeta açoriano e técnico do Centro de Restauro de Arte do Museu de Angra do Heroísmo.

O terramoto referido além dos estragos que fez na pintura do Nascimento do menino Jesus, ainda causou danos na Lampadário de prata da igreja que por ordem do então Presidente da Junta de Freguesia, Amaro Ferreira da Silva, foi enviada ao continente português para restauro.
Este lampadário de prata é uma peça de arte que foi o resultado de uma ordem dada em 28 de Setembro de 1798 pelo vigário António Machado Pereira, que na altura era vigário da Matriz de Velas a Igreja de São Pedro. Nela encontra-se escrito: “seja reformada a lâmpada da capela-mor obra muito antiga mas com prata bastante para que se faça mais peso ajuntando-lhe as 6 libras e 7 oitavas que pesam as moedas de prata que ficam na arca de três chaves”.


A Capela-Mor tinha no início da construção desta igreja duas janelas que na pratica eram duas estreitas frestas estilo medieval e que foram alargadas depois de uma visita feita a esta igreja pelo Cónego Serpa no dia 23 de Julho de 1792, de forma a permitir uma maior entrada de luz.
Encontra-se um retábulo por detrás do Altar-Mor, lavrado a azul e ouro com a imagem da Padroeira da igreja, Santa Bárbara, tendo de um lado São Pedro, do lado do evangelho e São Sebastião do lado da Epístola. Mais duas imagens, uma de Nossa Senhora de Rosário e outra de Nossa Senhora das Dores, também se encontram nesta Capela.

Em tempos idos existiram nesta capela Confrarias dedicadas a estas imagens, sendo que os estatutos da primeira confraria datam de 1780. De ambos os lado do Altar-mor e a fazer-lhe guarda, uma vez que aqui foi feito o sepulcro para a imagem de Senhor Morto, estão águias douradas esculpidas em alto relevo. A rainha das aves simboliza a vitória da Fé Cristã contra todas as perseguições.

O Sacrário encontra-se folheado a ouro, tal como uma parte substancial da restante decoração. Tem uma fechadura e dobradiças feitas em prata. Dada a sua postura e para quem entra na igreja dá a impressão que o edifício foi concebido de modo a que a atenção seja logo colocada sobre este Sacrário. Sobre a porta central do mesmo encontra-se um coração esculpido.

Nas tardes do solstício de Verão, e aquando do Sol se encontra sobre o Poente, descendo pelo lado Norte e sobre a ilha do Faial, os raios de luz entram pela janela do coro e vão incidir sobre este coração esculpido. Com o refulgir da luz sobre o metal todo o templo fica iluminado por uma única luz, luz essa que irradia do coração do Sacrário.

O actual altar voltado para a Assembleia foi mandado levantar no Verão de 1984 e feito pelos artesãos da Fundação Ricardo do Espírito Santo, de Lisboa, que tinham estado neste templo no ano de 1982, chefiados pelo Mestre entalhador Manuel Abrantes Nunes, para procederem ao restauro da decoração em madeira.


Foi ainda graças a estes trabalhos de restauro que se reuniu os bocados de madeira do órgão, da autoria de Sebastião Gomes de Lemos e que remonta a 1851. A balaustrada do coreto é da autoria dos marceneiros Manuel da Cunha Leite e Mariano da Silva Brasil de Borba, natural este desta freguesia das Manadas e que celebrou a sua Missa Nova na Ermida de Santo Cristo da Fajã das Almas, no dia de Nossa Senhora de Lourdes do ano de 1889.

Existe ainda outra peça de arte nesta igreja que é uma mesa onde se encontram gravados os símbolos do martírio de Santa Bárbara. Trata-se de um trabalho feito em embutidos de madeira de diferentes cores cuja data remonta ao ano de 1799. A completar as obras de arte que nesta igreja se encontram existe um armário que foi embutido na parede e dois arquibancos a completar o mobiliário da sacristia principal.

A sacristia do lado Sul da igreja dá passagem ao Púlpito, ao Coro e também à Sineira. Estão ainda nesta capela várias imagens adquiridas neste século, que são: São José, São Pedro, São Sebastião, São Jorge e Santo Antão, o Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Santa Bárbara, Santa Teresinha.



Localização:

Largo da Igreja
Manadas
9800-038 MANADAS

Ilha: São Jorge
Distrito: Horta
Concelho: Velas
Freguesia: Manadas

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Agradecimentos:
Igreja de Santa Bárbara e Pe. Manuel António das Matas dos Santos


Fontes:

- Órgão
Fotografias - capturadas no local
Informações - Wikipédia, Musicologicus

- Igreja
Fotografias - Wikipédia (1ª), São Jorge Digital (última), capturadas no local (restantes)
Informações - Wikipédia

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Concedidas bolsas de estudo para formação em restauro de órgãos

Angra do Heroísmo , 9 de Agosto de 2010

Bolsas para formação em áreas de relevante interesse cultural



A Presidência do Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional da Cultura, concederá bolsas de estudo, no ano lectivo 2010/2011, para formação especializada em afinação de pianos, restauro de mobiliário, restauro de tecidos e restauro de órgãos.

As bolsas de estudo para formação são atribuídas anualmente e visam dotar a Região com técnicos especializados em matérias consideradas de relevante interesse cultural.

As bolsas compreendem um subsídio mensal equivalente a 65% ou 40% da remuneração mínima mensal mais elevada garantida por lei (ordenado mínimo) referente a cada mês de frequência do curso, e duas passagens aéreas, caso os alunos frequentem um estabelecimento de ensino fora da Região.

Os interessados podem candidatar-se até ao dia 30 de Agosto de 2010. Para o efeito deverá ser contactada a Direcção Regional da Cultura, Divisão de Promoção e Dinamização da Cultura (telefone 295 403 000, e-mail
drac.info@azores.gov.pt), no sentido de se inteirarem do regulamento e modelo de candidatura.

Com a atribuição de bolsas de formação em áreas de relevante interesse cultural, o Governo Regional dos Açores pretende promover e incentivar a valorização do património cultural açoriano.

GaCS/SF/DRaC

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Festival de Órgão em Angra do Heroísmo

A 12 de Agosto de 2010


Integrado nas Comemorações dos 475 anos da Elevação de Angra a Cidade (encerramento), decorrerá de 16 a 20 de Agosto, pelas 21h00, o Festival de Órgãos de Tubos de Angra do Heroísmo.

Trata-se de uma iniciativa da Diocese de Angra, da Culturangra e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo que terá lugar no Santuário Nª Sª da Conceição (16 de Agosto), Igreja da Misericórdia (17 de Agosto), Igreja do Colégio (18 de Agosto), Igreja de São Gonçalo (19 de Agosto) e Sé Catedral (20 de Agosto), e que contará com a actuação dos organistas Ricardo Toste e Vasco Soeiro, que interpretarão obras de António Valente, Pedro de Araújo, Sweelink, António Carreira, Cabanilles, Frei Diego da Conceição, Cabanilles, Carlos Seixas, John Stanley, Francisco Correa de Arauxo, Girolamo Frescobaldi, António de Cabezón, Pablo Bruna, Georg Muffat, Manuel Rodrigues Coelho, José da Madre Deus, António Correia Braga, entre outros. As obras serão interpretadas em órgãos ibéricos que possuem singularidades sonoras relativamente aos órgãos de tubos da Europa. Trata-se de uma aposta na valorização do património material, cultural e artístico do concelho. 

Acerca dos organistas:
RICARDO TOSTE - nascido em 1986, natural da Ilha Terceira, Açores, iniciou os seus estudos em órgão com António Duarte. Em 2006 ingressa na Universidade de Aveiro no curso de Licenciatura em Música sob direcção de Domingos Peixoto e Edite Rocha. Frequentou master classes com Jon Laukvik e Monserrat Torrent, em Palência, e com Louis Robilliard e Edite Rocha, na Universidade de Aveiro. É organista da Sé Catedral de Angra do Heroísmo desde Dezembro de 1999. Realizou concertos em Aveiro na “Temporada de Órgão do Ciclo Buxtehude” e “Momentos Musicais do Museu de Aveiro” em 2007; “Festival Internacional de Órgão de Lisboa” em 2006; na Igreja Evangélica Alemã em 2007. Participou num dos concertos que englobam a obra integral de Olivier Messiaen realizado na Sé Catedral de Lisboa. Tocou com a Orquestra Filarmónica das Beiras obras como Paixão Segundo S. Mateus de J.S. Bach, Oratória de Natal e de Páscoa também do mesmo compositor. Actualmente frequenta o Mestrado em Formação Musical para o Ensino Vocacional na Universidade de Aveiro.

VASCO SOEIRO - nasceu no Porto em 1976 e iniciou o estudo da música sacra colaborando nas celebrações eucarísticas. No ano de 1997, prosseguiu os seus estudos na Escola Diocesana da Ministérios Laicais do Porto, tendo frequentado o curso de Música Litúrgica na classe de Órgão, sob orientação do professor António Mário Costa. Posteriormente frequentou o curso de Órgão do III Curso Nacional de Música Litúrgica (2003 – 2006), tendo sido orientado pelos professores Filipe Veríssimo, António Esteireiro e António Mário Costa, nas disciplinas de órgão Literatura e Órgão Litúrgico. Durante o curso participou numa master class do organista Luca Antoniotti. Em 2005, ingressou na Universidade de Aveiro, no curso de licenciatura em Ensino de Música, estudando Órgão com o Professor Domingos Peixoto e Professora Edite Rocha. Desde então, tem participado em várias master classes com os organistas Louis Robilliard, Daniel Roth, Lionel Rogg e Luca Antoniotti. Participou na audição integral da obra organística de Buxtehude, promovida pela AMPO – Associação Musical Pro Organo, em 2007, bem como noutros recitais organizados pela mesma associação. Em 2008, participou no “43rd. International Summer Academy for Organist”, em Haarlem, na Holanda, tendo frequentado o curso de Música Antiga com Bernard Winsenius. Participou também no dia ECHO do Festival Internacional de Órgão e na Igreja Evangélica Alemã de Lisboa.Em 2009, participou na audição integral da obra organística de Messiaen, na Sé de Lisboa, na comemoração do centenário do seu nascimento, e em Julho do mesmo ano, participou no “XIII Academia de Órgano Fray Joseph de Echevarria “ em Palência, Espanha, tendo sido orientado pelos professores Montserrat Torrent, Jon Laukvik e Andreas Arand.Desde 2005 que é organista na Igreja da Lapa no Porto, e é paralelamente efectivo no Coro da Sé Catedral do Porto.


Emanuel Pereira

sábado, 14 de agosto de 2010

O Órgão da Igreja Matriz de São Jorge (Ilha de São Jorge)


Construído por Tomé Gregório de Lacerda em 1865. Este organeiro amador, tio do compositor Francisco de Lacerda, construiu quatro instrumentos, copiando outros órgãos e aproveitando instruções colhidas do Padre Silvestre Serrão em Angra do Heroísmo.

Destes quatro considerado o de maior fábrica, o órgão da Matriz de Velas é aliás o único que subsiste, tendo sido totalmente restaurado pelo organeiro Dinarte Machado, que concluiu os trabalhos a 14 de Agosto de 1990, procedendo a uma beneficiação em 1995.

Como a carência de materiais próprios, sobretudo para os tubos, levou Gregório de Lacerda a construí-los em chapa de chumbo puro, liga muito frágil e de manutenção impossível, foi a canaria existente substituída depois do restauro e guardada a original num armário próprio junto ao instrumento.

Foram também construídas de novo todas as palhetas à chamada (Baixãozinho e Clarim), que faltavam.

O órgão encontra-se colocado no coro alto da igreja.


Informação Técnica

- Localização (na Igreja): Coro Alto
- Estado: Funcional
- Tipo: Órgão Ibérico, de um manual
Nº3 do organeiro acima referido
- Ano da Construção: 1865
- Teclado: Dividido (Dó 1 - Dó 3; Dó# 3 - Sol 5) . 56 Teclas.

- Registação (9+9):



*Mão esquerda:
Vigésima Quarta
Dezanovena e 22ª
Símbala
Quinzena
Dozena
Flautado de 6 tapado
Oitava Real
Flautado de 12 tapado
Baixãozinho *









*Mão direita:
Dezassetena
Compostas de 12ª e 15ª
Símbala
Quinzena
Dozena
Flautim
Flautado de 12 aberto
Flauta em 12
Clarim *



NB: Os registos com sinal de * na frente são Palhetas Horizontais (Palhetas em chamada).

- Extras:
* Pisantes para ligar e desligar o cheio.


- Intervenções:
* Construção: em 1865, por Tomé Gregório de Lacerda
* Restauro: concluído a 14 de Agosto de 1990, por Dinarte Machado
* Beneficiação: em 1995, por Dinarte Machado


O órgão histórico de tubos da Matriz de S. Jorge em Velas, foi construído nesta ilha por um ilustre jorgense, no ano de 1865, de nome Tomé Gregório Lacerda, tio do maestro e compositor Francisco de Lacerda, figura que tanto honrou Portugal e os Açores, por terras eruditas da Europa, no campo musical.

Tem, portanto, 130 anos e foi o terceiro dos quatro então construídos por tão hábil filho da Ribeira Seca, tendo custado na época 900$000 reis.

É feito de madeira de casquinha, carolina, jacarandá e câmbala, madeiras exóticas que arribavam então às ilhas ou trazidas do Brasil, fazendo lastro, em barcos que aqui faziam "aguada".

Fora colocado inicialmente, como era da praxe, num coreto lateral, sob a arcada do lado esquerdo, tendo sido posteriormente transferido para o coro alto em 1897.

Dos quatro então feitos por Tomé Gregório de Lacerda apenas existe o desta Matriz.

Deixara de tocar em 1964, por altura da crise sísmica que abalou profundamente esta ilha, nomeadamente o concelho das Velas.

Em 1989, o novo Pároco envida esforços no sentido de se proceder ao seu restauro, que realmente se verificou a 13 de Junho de 1990, trabalho esse efectuado pelo jovem organeiro Dinarte Machado, e que consistiu na reparação de algumas deficiências técnicas ligadas à construção inicial, a fim de que o órgão ficasse aptamente tocável e sobretudo em moldes de construção ibérica.

Além das anomalias acima referidas, houve ainda que enriquecer timbricamente este instrumento, pelo que foi necessário construir um jogo de tubos para a fachada mais outro no interior, assim como toda a palhetaria da mesma que não existia.

Na obra deste restauro e beneficiação, levada a cabo pelo referido organeiro, foram dispendidas 1107 horas de trabalho, ficando o órgão provido de dois sistemas de produção de ar: o antigo, movido através de uma alavanca accionada com o pé, e o moderno, através da aplicação de um gerador de ar importado da Alemanha.

O seu orçamento foi de 2 400 000$00, suportados em 50% pela Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Em virtude da fragilidade dos materiais originais então usados - o chumbo - o órgão ficou aquém das suas reais capacidades tímbricas, pelo que enfermava na sua dupla função quer litúrgica quer concertística.

Houve, portanto, e sem descaracterizar o instrumento, que proceder a novo restauro, isto é, submetê-lo a uma cuidadosa e criteriosa remodelação e ampliação de restauro, de modo a lhe dar maior capacidade sonora para assim exercer cabalmente a sua função religiosa e cultural.

Este trabalho consistiu na completa substituição do chumbo por chapa de estanho, acrescido ainda do aumento de mais 87 tubos, ficando um total de 759 ao contrário dos 672 de anteriormente.

Assim o órgão ficou altamente enriquecido e valorizado, mantendo todavia as suas características originais em relação à mecânica e estética concebidas pelo seu construtor.

Como prova de respeito pelo passado e pela história, os tubos agora substituídos foram colocados num armário de vidro, adrede construído para o coro alto mesmo ao lado do órgão, podendo os mesmos ser admirados pelos visitantes.

É que restaurar não significa destruir...

Este projecto, deveras audacioso, foi orçado em 2 600 000$00, tendo a Câmara Municipal das Velas, num gesto completamente inédito neste arquipélago, comparticipado com 50%, ficando o resto ao cuidado do Fundo Paroquial.

Fica aqui, uma vez mais, o nosso reconhecimento à Edilidade Velense.

O Pároco
Pe. Manuel Garcia da Silveira
Em 1995


Oiça o Órgão
Intérprete: Rui Paiva
Em: 1995
Retirado do CD "Os Mais Belos Órgãos de Portugal: Açores - CD C" (Intérprete: Rui Paiva).



A Igreja:


A Igreja Matriz de São Jorge é uma igreja católica portuguesa localizada em Velas, na ilha açoriana de São Jorge.

Esta igreja foi levantada no local onde dantes existia a primitiva igreja de São Jorge de que fala o testamento do Infante D. Henrique, e que datava de 1460.

A licença para a sua construção foi requerida pelo padre Baltazar Dias Teixeira, e concedida por D. Afonso VI, por alvará de 23 de Abril de 1659. Para esse efeito, em Outubro de 1660 a Câmara Municipal de Velas teve de lançar uma finta anual a começar no ano seguinte.

Todavia, só em 1664 a obra da edificação principiou, sendo arquitecto da mesma o pedreiro Francisco Rodrigues. A construção decorreu normalmente, sendo a igreja sagrada em Fevereiro de 1675, pelo então bispo de Angra do Heroísmo, D. Lourenço de Castro.

A actual fachada já não é a mesma de então. No seu interior, composto por três naves, são dignos de nota o retábulo da capela-mor que, segundo a opinião do Dr. João Teixeira Sousa, parece ter sido o que D. Sebastião ofereceu à vila, e a que se refere a vereação de 12 de Agosto de 1570.

Destaca-se também o altar lateral com abóbada de caixotões, tendo no centro a figuração do Santíssimo Sacramento lavrada na cantaria basáltica e dois púlpitos em pedra, com escada. No coro alto, encontra-se um órgão de tubos construído em 1865 por Tomé Gregório de Lacerda, tio do famoso compositor Francisco de Lacerda.

Quando aquele bispo esteve na ilha para a sagração do templo, a artilharia dos Fortes das Velas gastaram em salvas, à entrada e à saída 110 libras (medidas da altuta) de pólvora. A construção da torre decorreu em 1825, segundo Avelar, nela se colocando três sinos que, em 1831, foram apeados para fazer moeda na Ilha Terceira. O sino grande que foi posto em 1871 pesava 468,700 quilos.

Esta igreja matriz possuía várias confrarias que mais tarde seriam extintas. Em 1902 a única confraria ali existente era do Santíssimo Sacramento, erecta em 1793, e que tinha a seu cargo as festividades ligadas com a procissão do Corpo de Cristo e as cerimónias das endoenças.

Esta igreja tem vários vitrais contemporâneos, testemunhando a lenda de São Jorge a matar o dragão.



Localização:

Velas
9800 VELAS

Ilha: São Jorge
Distrito: Horta
Concelho: Velas
Freguesia: Velas

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Agradecimentos:
- Pe. Manuel Garcia da Silveira, Pároco da Igreja Matriz de São Jorge
- Helen Martins

Fontes:
- Fotografias:
* Órgão - tiradas no local, excepto a primeira, que foi retirada de um postal distribuído na igreja.

- Informações:
* Igreja - Wikipédia
* Órgão - Folheto informativo, distribuído na igreja; Folheto informativo do CD "Os Mais Belos Órgãos de Portugal - Açores, CD C"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

S. Jorge Palco de Cultura Musical

Por Pe. Manuel Garcia da Silveira,
Pároco da Igreja Matriz de São Jorge (Velas)


Dos quatro então feitos por mestre Gregório de Lacerda, apenas existe o desta Matriz de S. Jorge. 
O n.2 foi colocado na Igreja de S. Sebastião, freguesia da Calheta do Nesquim, Pico, e o n.4 na Igreja de Nossa Senhora da Piedade na mesma ilha.

Em 1827, veio de S. Miguel para esta Ilha o órgão n.29, feito em Lisboa, no ano de 1790 por um dos maiores organeiros portugueses da segunda metade do século XVIII, António Xavier Machado e Cerveira. Destinava-se inicialmente este pequeno instrumento a um convento de religiosas na Ilha do Arcanjo e que o recusaram por um "cheio" ser muito forte em contraste com as vozes brancas das ditas religiosas, tendo sido adquirido posteriormente pela Matriz da Calheta pelo preço de 590$000 reis. Importa realçar que das oficinas deste exímio organeiro saíram muitos órgãos para estas ilhas, alguns até de grande porte e perfeita execução.

A igreja de Santa Bárbara das Manadas também possuiu em tempos idos o seu órgão de tubos. Embora modesto, era razoável e com a singularidade de ser em forma de "armário", feito por Sebastião Gomes de Lemos, no ano de 1851, conforme placa nele existente. Jaz morto e bem morto, em mil cacos, num recanto da referida igreja.

A pitoresca freguesia da Urzelina - a Sintra jorgense - adquiriu também o seu órgão, armado, ao que parece a partir dos restos de outro instrumento, por Marcelino de Lima, natural do Faial, no ano de 1855, tendo sido posteriormente restaurado por Tomé Lacerda em 1868 e mais tarde pelo seu sobrinho, o Maestro Francisco de Lacerda, que nele tocou com primor e beleza, delícias do seu génio musical.

Refira-se a título de curiosidade, que a cidade da Horta, berço que foi da literatura açoriana, na segunda metade do século passado, possuiu na mesma época de florescimento cultural, duas competentes oficinas na feitura e montagem de tais instrumentos, o que muito dignifica a Ilha do Faial.

O lugar dos Biscoitos não ficou atrás nesta maré alta, diríamos contagiante, de cultura musical que então grassava por toda esta ilha e que era fruto igualmente dos sinais do tempo! Nele havia muita fé e arte.
O seu órgão de tubos foi feito na Horta por mestre Manuel de Serpa da Silva, que em tempos se havia especializado nesta arte, na cidade americana de New Bedford. O seu custo rondou os 600$000 reis, tendo sido armado em 20 de Maio de 1890. Em virtude da muita humidade sentida naquela zona, foi vendido para a Igreja da Silveira, ilha do Pico.

Prosseguindo a nossa pesquisa pela ilha dentro, não podemos olvidar Santo Antão e Norte Grande, freguesias que também possuíram os seus órgãos, tendo o primeiro sido adquirido em Lisboa graças aos esforços do Pe. Francisco Xavier e Castro e do Dr. João Paulino de Azevedo e Castro, irmãos, este último Vice-Reitor do Seminário de Angra e mais tarde Bispo de Macau. Era pequeno, de flautado muito suave. Pertencera em tempos a um Convento de freiras. 
Conforme assevera o Pe. Manuel de Azevedo da Cunha, era órgão de tanta suavidade, só comparável ao da Misericórdia de Angra!

O órgão do Norte Grande viera do Faial, mais propriamente da freguesia dos Flamengos e por indicação do erudito Pe. João Goulart Cardoso, figura ilustre do clero faialense. Este pequeno órgão, de oitava curta, tinha pertencido originalmente ao Convento e Colégio dos Carmelitas da cidade da Horta que, considerando-o modesto para tão imponente como majestoso templo, o venderam em 1898, altura em que serviu pela primeira vez em 23 de Outubro do mesmo ano, numa festa do Coração de Jesus e em que foi orador o próprio Pe. João Goulart Cardoso.

O actual órgão existente na Ribeira Seca, já não é o n.1 armado por Tomé Gregório de Lacerda, em 1854, pela importância de 600$000 reis, mas sim outro, desta vez feito por Manuel de Serpa da Silva em 1892, tendo chegado à Ribeira Seca em 29 de Maio do dito ano e pela importância de 580$000 reis.

Finalmente, chegamos à bela Matriz de Nossa Senhora do Rosário, da Vila Nova do Topo, indiscutivelmente uma das quatro notáveis e artísticas igrejas de S. Jorge. O seu órgão foi feito na Horta por Manuel de Serpa da Silva e armado em 29 de Maio de 1895, pela importância de 900$000 reis. Tanto este órgão como o da Calheta foram colocados inicialmente em coretos laterais, do lado esquerdo, transitando o do Topo, há poucos anos, para o Coro alto, onde se encontra presentemente em agonia forçada, após tantas ofensas e maus tratos infligidos por via desta inadequada e infeliz mudança... ficando destruída a caixa por não caber onde não devia estar...

Quanto ao da Matriz da Calheta, nem falar nisso. Uma dor de alma... Totalmente destruído, sem dó nem piedade, feito em mil cacos! Mãos caridosas, alertadas por quem escreve estas linhas, os juntou, fazendo-os guardar a fim de se não perderem irremediavelmente e para sempre. Machado e Cerveira, que lhe imprimiu carinho e muito amor, ter-se-ia, concerteza, revirado na sepultura, perante tamanha indignidade!...
Presentemente, e em jeito de reparação moral tardia, este órgão está a ser restaurado, tendo a Secretaria Regional da Cultura despachado já a verba necessária, o que folgamos, já que depois da tempestade vem a bonança...

Como conclusão de tudo isto, devemos e podemos concluir qe em 1924 existiam ainda em S. Jorge dez órgãos de tubos, o que é muito significativo para o tempo, órgãos esses que enriqueceram e valorizaram a cultura musical das nossas gentes pelas mãos hábeis de tantos desconhecidos organistas a quem, neste momento e lugar prestamos sentida e justa homenagem pela dedicação e fidelidade na arte do teclado.

Voltando novamente a nossa atenção ao órgão desta Matriz, importa referir que o mesmo deixou de tocar, logo após a crise sísmica de 1964, altura em que acusava já muitas deficiências.
Com a chegada do novo Pároco em Agosto de 1980, logo se começou a prestar cuidadosa atenção a tão ilustre instrumento. Assim, em 1984, e por deferência do então Director Regional para os Assuntos Culturais, Dr. Jorge Eduardo Forjaz e a pedido do Pároco da Matriz (recorde-se que a Fundação Calouste-Gulbenkian levou 3 anos a responder negativamente a uma carta-pedido do Pároco da Matriz), o órgão de Velas foi altamente beneficiado na sua caixa com o restauro da mesma e limpeza sumária da máquina, trabalhos esses efectuados por abalizados técnicos da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, de Lisboa, que na altura se encontravam a restaurar as talhas dos altares da Igreja das Manadas.
Seguidamente, ou seja, em 1986, o mesmo órgão é sujeito de uma oportuna como aturada reposição de tubos, limpeza de outros, trabalho efectuado gratuitamente por um simples curioso na matéria, amigo desta Matriz, o bem dotado músico, Senhor Júlio Vieira Rodrigues que o fez tocar de novo, embora parcialmente, enchendo por conseguinte a Matriz de santo júbilo e de renovada esperança.

Todos os demais órgãos emudeceram por completo, perdendo o pio... Alguns, como as árvores, morrendo de pé, mas envoltos em tamanha dignidade, outros porém, a abarrotar de lixo, transformado em vazadouro do lugar... outros ainda (que desolação) feitos em mil cacos, à força de pés de cabra, brutalmente destruídos pela insensibilidade e ignorância de quem de direito o não devia ter feito. Santo Deus, ao que se chegou!...

Neste momento de júbilo para todos nós, em dia de inauguração, uma palavra muito justa se impõe ao bom povo desta Comunidade Paroquial da Matriz, que logo de início compreendeu a urgência do restauro deste instrumento, contribuindo com as suas dádivas generosas que fizeram face aos 50% necessários para o orçamento em causa. Uma palavra muito justa ainda para a Comissão de Senhoras que angariou e andou de casa em casa, de porta em porta. A todas as entidades que patrocinaram esta empresa deixamos aqui a nossa amizade, o nosso muito obrigado. Finalmente, fazemo-lo de propósito, uma palavra muito especial para com a Direcção Regional dos Assuntos Culturais, pelo subsídio de 865 000$00 concedidos, ajuda deveras imprescendível para tão avultada despesa. Sem a sua colaboração, dificilmente teria sido possível este grande benefício.
Ao organeiro, Manuel Dinarte Machado Borges, jovem artista a quem muito há a esperar do seu talento, pelo interesse, pelo carinho e devoção que sempre pôs ao serviço deste instrumento, a minha amizade, o nosso agradecimento.


Fonte:
Revista Insula, 13 de Junho de 1990

Agradecimento:
Pe. Manuel Garcia da Silveira,
Pároco da Igreja Matriz de São Jorge (Velas)

domingo, 8 de agosto de 2010

Órgão de Tubos Renasce na Matriz das Velas

Em S. Jorge...
Órgão de Tubos Renasce na Matriz das Velas
Por Pe. Manuel Garcia da Silveira, 
Pároco da Igreja Matriz de São Jorge (Vila das Velas)



Dentre o variado e expressivo espólio histórico-cultural desta Região, ocupam posição de indesmentível relevância os chamados órgãos de tubos.

Alcandroados em lugares cimeiros das nossas igrejas - coros altos - ou então em coretos laterais, em jeito de arremedo feito à pressa, estes preciosos instrumentos, revestidos de caixas onde por vezes avultam as talhas douradas e as mais belas motivações de arte barroca, foram durante décadas focos de irradiação cultural e de elevação do espírito.

Ecoando por sobre abóbodas e arcarias dos nossos vetustos templos, os órgãos de tubos foram, através de gerações sem fim, uma presença amiga, o deleite incontido do espírito, a oração cantada, a sinfonia em prece ardente de tantos em união com Deus.

Vitimados pela voragem do tempo e pela incúria dos homens, emudeceram quase por completo, deixando todavia na sensibilidade artística de tanta gente uma saudade pungente...! É que dói imenso vê-los agora calados, eles que foram concebidos e armados com tanto amor para cantar louvores ao Altíssimo, para cantar as belezas da arte, numa palavra, para rezar!

Fazer uma análise histórica sobre a introdução destes instrumentos nesta ilha de S. Jorge, não se nos afigura tarefa fácil. Os elementos não são assim tão abundantes. Todavia, crê-se que as igrejas desta ilha de S. Jorge só tiveram órgão de tubos no século XIX, com excepção honrosa para a Matriz das Velas, Igreja principal de S. Jorge, a primeira que teve órgão, e já no século XVIII, segundo julgamos pela seguinte e elucidativa nota do então Pároco, Rev. Pe. José Silveira Goulart:

"O pequeno órgão que está em S. Francisco - refere a dita nota:
era da Matriz, e foi vendido à Santa Casa da Misericórdia quando da aquisição do órgão actual, em 1865.
Era portanto Provedor o Pe. Lacerda que o comprou por 150$000 reis. Não tinha nome do autor."

Continuando a citar a mesma nota, refere o Pe. Silveira Goulart: "tenho ideia de me dizer o tesoureiro, Victorino José Caldeira que aquele pequeno órgão tinha sido do Convento do Rosário das Freiras desta Vila. Mas a centenária, Vigária daquele Mosteiro - D. Maria Londina - que lá esteve em menina não confirma esta notícia e diz, bem como meu pai que está a fazer 90 anos, que o dito instrumento era mesmo desta Matriz de S. Jorge."

Como é óbvio concluir não é de crer que houvesse no Convento do Rosário uma daquelas peças estando privado dela o principal templo da Ilha e onde havia colegiada.

Refere o Pe. Manuel de Azevedo da Cunha, que temos vindo a seguir nas suas "Notas Históricas", que em 1651 já havia Mestre de Capela na Matriz das Velas, como se vê de um testamento. Havendo Capela, é de crer que houvesse órgão.

Em 1702, exercia aquele cargo o Pe. João Teixeira Ferro. Em 1715, o Pe. Jorge de Sousa Fagundes. Em 1750, o Pe. José Francisco de Azevedo. Em 1767, na ausência do Pe. Azevedo, ocupou o lugar o Pe. Joaquim Furtado de Mendonça, viúvo que foi de D. Joana Francisca da Silveira, ex-noviça do Convento do Rosário desta Vila e de cujo matrimónio nasceram seis filhos, três dos quais sacerdotes.

Reportando-nos à ilação do Pe. Cunha, a partir da existência do Mestre de Capela nesta Matriz para concluir que deveria haver órgão (uma coisa não se compreenderia sem a outra) tem plenamente razão o paciente e incansável investigador jorgense, e pela informação seguinte que reputamos de muito valor:

A 13 de Junho de 1676, no ano a seguir à Dedicação da Matriz de S. Jorge, encontrava-se novamente nesta Ilha, em Visita Pastoral, D. Frei Lourenço de Castro que, investigando minunciosamente esta Igreja Matriz, seus haveres, alfaias litúrgicas e demais pertences, tratando ainda da organização litúrgica da mesma, deixou no Livro 1. das Visitações, folha 35, esta preciosa observação que confirma todas as teses anteriores e, simultaneamente, atesta do zelo pastoral, bem como da solicitude deste santo e venerando Bispo, um dos mais notáveis Prelados que tiveram assento na Santíssima Sé do Salvador de Angra:

"... encomendamos muito ao organista que assista com pontualidade em suas obrigações, e tenha o cuidado de limpar o órgão..."

Daqui se conclui, e sem medo de errar, de que esta Matriz já possui o seu órgão no século XVII, e julgamos mesmo que a partir da primeira metade do mesmo, e até de um realejo, como se depreende de outra nota que encontramos no Livro 1. das Visitações, de 1676, a folha 40, recomendação esta feita pessoalmente pelo referido Bispo: "...mandamos ao Pe. Vigário que à custa do dinheiro que Sua Alteza mandou dar do que estaria para as fortificações mande vir um realejo para o coro da Capela Mor, e à custa da fábrica mande consertar o órgão velho do coro de cima..."  Se o órgão referenciado nesta nota estava velho, carecendo portanto de conserto, era porque acusava o peso de muitos anos, tanto mais que instrumento destes não se estraga em pouco tempo, já que no passado se fazia tudo em qualidade de materiais e em beleza de execução.

Que espécie de órgão seria? Conviria perguntar. Presumimos que fosse um órgão bom, adaptado às necessidades e exigências da época, como é natural, mas um órgão à altura da dignidade das "Igrejas deste Bispado".

A este propósito, convém citar outra nota, não menos importante e que decerto projecte alguma luz sobre o assunto:

A 20 de Fevereiro do ano de 1732, o Licenciado Jerónimo de Sousa Cabral, Vigário Confirmado na Matriz de nossa Senhora do Rosário do Topo, e Visitador Geral das Ilhas do Pico, Faial e S. Jorge, pelo Bispo D. Manuel Alvares da Costa, falando do Coro da Matriz de Velas, deixa exarada, no Livro 2. das Visitações, folha 69, a seguinte nota:

"...é notória a falta que há de um órgão para o Coro desta Matriz, porque o que nela se acha, além de ser muito antigo, está quase de todo defeituoso em forma que causa notável dissonância... que por isso tendo organista com ordenado, que para este efeito lhe tem consignado Sua Majestade, que Deus guarde: pelo que ordeno ao Reverendo Vigário que requeira do dito Senhor mande da (...) para esta Matriz um órgão de oito registos, como os há nas principais igrejas deste Bispado, e o deve haver nesta Matriz...".

Segundo se depreende claramente desta exigência do Visitador, a Matriz de S. Jorge, em Velas, sendo a principal desta Ilha, poderia e deveria ombrear em dignidade com as principais do Bispado na obtenção de um órgão de oito registos. Portanto, não devia ser um modesto instrumento, antes pelo contrário.

O actual órgão desta Matriz, de que nos ocupamos neste trabalho, foi contruído nesta Ilha por um ilustre jorgense, ano de 1865, de nome Tomé Gregório de Lacerda, tio do Maestro e Compositor, Francisco de Lacerda, figura que tanto honrou Portugal e os Açores, por terras eruditas da Europa, no campo musical. Tem, portanto, 125 anos e foi o terceiro dos quatro então construídos por tão hábil filho da Ribeira Seca, tendo custado na época 900$000 reis.

É feito de madeira de casquinha, carolina, jacarandá e câmbala, madeiras exóticas que arribavam então às ilhas ou trazidas do Brasil, fazendo lastro, em barcos que aqui faziam "aguada".

Possui 672 tubos sonoros e 18 registos partidos. A sua estrutura obedece, assim como o da Matriz da Calheta, ao estilo ibérico, enquanto os restantes existentes nesta Ilha evidenciam certas características de estilo inglês.

Fora colocado inicialmente, conforme a praxe do tempo, num coreto lateral, sob a arcada do lado esquerdo, tendo sido posteriormente transferido para o Coro alto em 1897 conforme nota exarada no Livro 4. das Visitações, folha 130.

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Fonte:
Revista Insula, de 13 de Junho de 1990.

Agradecimentos:
Pe. Manuel Garcia da Silveira, 
Pároco da Igreja Matriz de São Jorge
(vila das Velas, ilha de São Jorge)


Órgão da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe re-inaugurado!




A 31 de Julho de 2010, o órgão desta igreja da ilha Graciosa foi finalmente restaurado, contando assim o espólio organístico graciosense com dois instrumentos funcionais (dois terços do espólio).



Foram convidados para a re-inauguração do mesmo, o Coro da Sé de Angra (ilha Terceira), Coro de São Mateus, Coro de Nossa Senhora de Guadalupe (ambos da ilha Graciosa) e o organista Fábio Mendes.






Fontes:
Informações
Fotografias - concerto, órgão